segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Pescar em Segurança

A pesca à bóia não se dá bem com águas lusas e muito transparentes, pois muitas espécies reagem a essa situação diminuindo a sua actividade ou afastando-se para profundidades maiores. Isso leva muitos pescadores a procurar mares mais mexidos, que são também, muitas vezes, os mais perigosos! Fizemos um apanhado de condutas que podem ajudá-lo a aumentar a segurança das suas jornadas de pesca em especial nestes mares de inverno. Previsões atmosféricas A segurança começa logo que perspectivamos uma ida à pesca. O primeiro passo é consultar a tabela de marés para saber se a maré enche e/ou vaza e a sua amplitude(http://www.hidrografico.pt/previsao-mares.php ). Devemos também consultar as previsões meteorológicas (http://www.meteo.pt/) para o dia e utilizar a informação de alguns sites especializados e que nos dão a sua evolução ao longo do dia ( http://www.windguru.com/pt/; http://www.stormsurf.com; http://www.beachcam.pt/) . Nestes sites podemos ver se no período em que estaremos à pesca as condições meteorológicas irão sofrer alguma alteração significativa e que possam prejudicar a nossa sessão de pesca. A mudança do quadrante do vento e a sua intensidade, caso seja norte trará frio e caso venha do quadrante sul poderá trazer chuva, certamente irá provocar uma mudança no estado do mar e com esta informação deveremos tomar todas as precauções necessárias. Devemos também observar o tamanho da ondulação e verificar que existe uma subida ou descida dessa mesma ondulação. O intervalo entre ondas é também muito importante e que nos dá a informação se o mar é certo ou de enchios. Tempos abaixo dos 10 e sinal que o mar e muito certinho e com valores na casa dos 14 para cima é sinal de que o mar esta de enchios ou falso ou de “setão”.

“Neste quadro destaca-se pelas corres mais fortes a instabilidade que se prevê a partir do dia 12 Podemos observar que a direcção do vento passa para o quadrante sul trazendo tempo nublado e chuva. O vento vai soprar com bastante intensidade provocando uma alteração bastante significativa na ondulação tornando o mar muito incerto Com estas previsões o dia de domingo reúne boas condições para a pesca. Há uma acalmia com o mar a cair e o Tempo a virar a sul que traz águas mais quentes e azuis tanto do agrado do peixe. O Peixe presente a instabilidade e alteração do estado do mar por isso encosta para comer antes do mar crescer.”

Roupa e calçado Face as condições atmosféricas encontradas devemos escolher a roupa e calçado adequado. Nesta estação de Inverno que se tem feito sentir bastante este ano , a escolha de várias camadas de roupa quente e confortável e em que a primeira camada deve ser absorvente e transpirável. No tipo de pesqueiros de falésia, em que se tem de andar muito e por caminhos de difícil progressão é nessa altura que suamos bastante e com o corpo molhado da transpiração daí a importância deste tipo de roupa. A existência de um impermeável na mochila é de uso obrigatório mesmo com tempo seco. Em caso de necessidade ele pode fazer a diferença perante um arrefecimento súbito de temperatura que seja provocada quer pela neblina ou pelo vento. Neste caso um arrefecimento prolongado da temperatura do nosso corpo pode originar hipotermia. Tambem a escolha do calçado é fundamental neste tipo de terreno. Botas impermeáveis com um bom rasto e que não seja muito dura para que possa adaptar às irregularidades do terreno são essenciais  

  Material 

Devemos ter sempre na nossa mochila uma lanterna operacional com pilhas suplentes. Nesta altura do ano em que os dias são curtos uma lanterna pode-nos ser útil quando a jornada de pesca se estende para lá do previsto. Um apito atado ao colete de pesca é essencial. Pode ser a a nossa salvação. Em caso de necessidade é mais fácil fazer ouvir um som agudo do apito do que a nossa voz. Um bom canivete no colete é também muito importante. Alguns de nós já passou pela situação de a bota ficar presa entre pedras e ser preciso descalçarmos para conseguir tirar o pé. Neste caso pode servir para cortar os atacadores caso não os consigamos desfazer o nó. Agua e comida são fundamentais. Para quem pesca em falésia uma jornada de pesca desenrola-se por muitas horas desde que saímos de casa e voltamos e envolve muito esforço e energia gasta. A reposição de líquidos e energia é fundamental. Devemos ter sempre uma garrafa de água e umas barras energéticas na mochila. Uma máquina fotográfica pode ser útil para documentar a nossa jornada de pesca gravando para a posterioridade o sucesso mas também documentando situações perigosas com que nos deparamos e que deveremos alertar as entidades competentes. Falésias em risco de ruir detritos perigosos que tenham sido trazidos pelo mar entre outras situações e que devem ser retratadas e comunicadas a quem de direito. Desta forma cumprimos um dever de cidadania e quem sabe evitar acidentes no futuro. Devemos sempre ter uma muda de roupa pronta a usar. Nestes dias frios e chuvosos após uma jornada de pesca sabe bem e evita uma constipação, chegarmos ao carro e mudarmos de roupa ou por estar molhada devido à chuva ou à transpiração resultante da subida da falésia 

  Chegada ao local 

Chegado ao terreno e antes de descer ao pesqueiro há que observar atentamente o local onde pretendemos pescar. Um dos sinais de instabilidade no mar é espuma ao largo estando aparentemente o mar calmo. Este é mar de “Setão”.  

 Essa espuma é formada pelas ondas que rebentam na costa e com a acalmia vai sendo levada para o largo. Quanto mais longe estiver essa espuma maior e o período de acalmia. Se repararem essa espuma nunca há em mar certo e regular devido ao constante rebentamento das ondas o que não deixa que a espuma formada pela rebentação vá para fora. Feita a observação é altura de acondicionar todo o material e descer ao pesqueiro 

  Descida ao pesqueiro 

 Ao acondicionar o material na mochila devemos ter sempre presente o seguinte: O mais pesado deve ir no fundo para evitar que o centro de gravidade seja elevado e possa dificultar o equilíbrio na progressão em terrenos acidentados. Devemos evitar levar coisas nas mãos para que em caso de necessidade as possamos utilizar rapidamente. Existem uns sacos cilíndricos bastante bons que servem para levar todo o material às costas deixando as mãos livres. Muitos pescadores usam estes sacos onde também transportam as canas no seu interior. Para quem desce as falésias e muitas vezes o caminho é feita ao longo das paredes da falésia as canas devem ser colocadas sempre do lado de fora para que não toquem nas paredes e provoquem desequilíbrios

O mesmo se passa com sacos e/ou baldes que possamos levar nas mãos. Estes devem sempre ir do lado contrario à parede da falésia Outro ponto importante ao deslocarmos nas falésias e verificar o tipo de terreno que temos de percorrer Devemos sempre seguir os trilhos existentes evitando os atalhos.
Se o terreno é barrento ou de argila em caso de estar molhado em virtude de ter chovido este é escorregadio e rapidamente deixaremos ter tracção por muito bom que seja o nosso calçado. Se as previsões forem de chuva há que equacionar bem o regresso com este tipo de piso. Existe também outro piso que encerra perigo. Trilhos de pedra solta e rolada. Este tipo de piso não oferece segurança a quem caminha sobre ele especialmente em terrenos acidentados. Geralmente este tipo de piso obeserva-se em falésias em risco de ruir com muita pedra a que chamo de “Pedra Podre”. Esta pedra parte-se com facilidade não oferecendo segurança na fixação de um ponto de apoio  
 Devemos também olhar para o cimo das falésias para ver se existe alguma fissura mais notória e que possa indicar perigo de derrocada Nunca devemos andar em cima de rebolos ou pedras redondas com limo. O perigo de queda é altíssimo Os Pés devem ser colocados entre as pedras. Chegado ao local escolhido há que interpretar alguns sinais. O local esta molhado e tem possas de agua? Em tempo seco é sinal que o mar chega ao pesqueiro. Existe lixo trazido pelos mares de inverno nas nas traseiras do local onde pretendemos pescar? Em caso afirmativo é sinal de banho na certa. Se este local é bastante frequentado e não tem lixo deixado pelos pescadores, então é sinal que o mar chega lá. Devemos ter em atenção se o pesqueiro escolhido é profundo e declive abrupto. Neste tipo de pesqueiro por vezes não se dá a rebentação das ondas formando-se apenas uma coluna de água que se eleva pela parede apanhando muitas vezes os pescadores desprevenidos colocando-os em situações de verdadeiro perigo


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  Acção de pesca

Após termos escolhido o pesqueiro em que muitas vezes é ao nível do mar há que colocar todo o material em segurança e apenas termos o essencial à “mão de semear” A utilização de um colete é essencial. Nos bolsos podemos colocar uma caixa com diversos anzóis, chumbos de calibrar uma ou 
duas medidas de linha de empate, o canivete ou corta-unhas
   

 Este material é suficiente para fazermos uma pesca tranquila sem que estejamos a regressar sempre que mudamos de anzol ou de estralho. Há uma frase que todos conhecemos e que muitas vezes descuramos. “Não vires as costas ao mar”. Esta é uma sábia frase que devemos ter sempre presente. Em muitos momentos a atenção é desviada para outras actividades tal como a iscagem ou a feitura de engodo ou a mudança de anzol. Estas operações devem ser feitas sempre de frente para o mar e se forem prolongadas há que interromper para observarmos novamente o mar.
Outra situação a ter em conta e quando precisamos de agua para fazer o engodo ou para manter o peixe fresco. O balde a utilizar não deve ser muito grande e devemos ter sempre uma corda resistente atada ao balde para que não tenhamos ir mesmo à rebentação buscar agua. Nunca devemos lançar o balde para tirar água na arrebentação. A escoa por vezes forte pode provocar um esticão  e um desequilíbrio. Desta forma nunca se deve ter a corda enrolada na mão. Para quem pesca com engodo de sardinha, nunca devemos entornar ou sujar a pedra onde nos movemos com engodo ou restos de sardinha ou isco (bivalves). No caso da sardinha, por ser um peixe muito gordo deixa o local onde nos movimentamos escorregadia potenciando as quedas. No caso dos bivalves em especial as cascas de amêijoas por serem muito duras e redondas podem fazer escorregar-nos quando o piso é liso Por vezes o mar supreende-nos, o tempo de reacção é reduzido e instintivamente a primeira coisa que fazemos é virar costas para receber o impacto da água. Nada mais errado. A meu ver é estarmos de flanco para que seja menor a superfície a receber esses mesmo impacto. A cana pode servir de ponto de apoio e equilíbrio devendo ser utilizada como de um “Cajado” se trata-se.  
  De regresso Finda a sessão de pesca devemos ter bem presente que teremos de percorrer o caminho inverso e muitas das vezes é a subir. Nesta altura a nossa condição física já não é a mesma fruto do desgaste das várias horas que estivemos de pé e em movimento constante em acção de pesca. Antes de iniciarmos a marcha de regresso devemos repousar uns minutos onde podemos repor energias.  
 A marcha de regresso deve ser lenta, uma vez que os músculos cansados não respondem da mesma forma que no inicio da pesca. Desta forma evita-se distensões e roturas musculares entre outros problemas originados pela sobrecarga muscular. Quando o caminho é longo e ou acidentado devemos fazer umas pausas para descansar E desta forma chegamos ao carro que nos levará a nossa casa para um merecido descanso. Aproveito para relembrar que fazer uma pesca consciente é fundamental. Seleccionar os maiores exemplares respeitando as medidas mínimas de captura Não deixar lixo nos pesqueiros
Boas Pescas
Este artigo foi publicado na revista " O Pescador" na edição de Fevereiro

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