sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Luta pela vida....

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Deixo aqui um episódio vivido por mim muito recentemente que me trouxe grandes aflições curiosamente no Litoral Sintrense.
Certo dia fui fazer um reconhecimento de uma zona de pesca e respectiva sessão fotográfica com os meus cães.
Descemos a falésia muito íngreme sem carreiros feitos devido á pedra solta.
No fundo uma praia de pedras e rebolos nos esperava

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Espreitar os buracos e caneiros para ver como o mar trabalha na maré cheia.
Subo a uma pedra alta e os meus cães não conseguem subir.
Deixo-me ali estar para puder observar mais atentamente o mar e fazer uma fotografia com uma panorâmica ao nível do mar.
O Duke procura forma de chegar ate mim e num salto não consegue fixar-se na pedra escorrega pela pedra.

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Ao tentar-se segurar com as patas na pedra extremamente agressiva corta as almofadas das patas.

Eu sem me aperceber que ele se tinha ferido algo me preocupou e rapidamente desço da pedra dando por encerrado o reconhecimento.
No regresso ao longo da praia de pedras e rebolos, reparo que o Duke fica para traz e penso que ele pode estar cansado.

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Algo ali não esta bem pois na passagem de alguns obstáculos ele hesita.
Volto para junto dele e numa pedra mais atrás vejo sangue.
Rapidamente descubro que as tem as 4 patas tem as almofadas rasgadas algumas presas por pontas.
Apodera-se de mim uma aflição.
Como consigo chegar com o Duke ao carro?
Tenho o carro a mais de 150mt de altitude com caminho de pedra solta e com uma inclinação superior a 45 graus para transpor.
Esta é a parte impossível de transpor.
Para chegar aí ainda tenho de percorrer com 38 kg nos braços sobre rebolos e seixos os 300 mts que me separam da subida

Foi com muito sacrifício que lá cheguei.
Agora o impossível está minha frente.
Esgotado, e com uma vontade imensa de chorar, mas não consigo, em vão tento lentamente a subida.
2, 3 passos com o Duke ao colo e as forças desaparecem.
O Duke outra vez no chão. Mais uma tentativa e nada.
O medo e pânico apoderam-se de mim.
Tento analisar a situação e tentar buscar soluções para que sozinho consiga transpor a enorme barreira que tenho entre mim e o carro.
Tudo o que me ocorre depende exclusivamente da minha energia e forças mas não as tenho.
A única solução é pedir ajuda.
Só uma equipa de resgate consegue resolver a situação
O 112.
Puxo do telemóvel e faço uma chamada.
Nada.
Tento novamente e nada.
Reparo então que não tenho rede.

Tinha de chegar ao carro na esperança de ali ter rede.
Bruscamente retiro a roupa que trazia vestida e estendo no chão num local plano coloco o Duke deitado sobre a minha roupa e digo para ficar deitado. Ao lado do Duke, a Klein está deitada também,
Com todas as minhas energias começo a subir a arriba, poucos metros mais acima dou com a Klein ao meu lado e o Duke sobre a minha roupa mas de pé.
Dou ordem para ficar e arranco a subir.
Olho para traz e o duke já não estava no mesmo lugar.
Tinha começado a andar. Muito lentamente subia e com enorme esforço.
Eu não podia parar e o Duke tambem não.
Eu subia e gritava para o Duke,
ANDA DUKE , VAMOS PARA CASA. FORÇA DUKE....ANDA.....

Eu fazia breves paragens quando ele também parava.
Foi com grande sofrimento e com determinação e luta pela vida que o Duke chegou até mim já muito perto do carro.
Aliviado por a situação estar resolvida e o Duke estar novamente ao meu lado pronto para voltar para casa.
Como penitencia ainda teria de voltar a descer a falésia para buscar roupa e maquina fotográfica que lá tinha deixado.
Ambos estávamos exaustos e eu aliviado.
O Duke esperou 2 longas e penosas semanas para voltar a andar.
Agora tudo está bem.

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P.S.
Ao escrever este texto revivi os terríveis momentos passados naquele lugar e serenamente consegui verter as lágrimas que até hoje permaneceram nos meus olhos.

4 comentários:

Anônimo disse...

Belissimo, um amor que comove, um sofrimento gémeo de quem não pode falar, mas expressar-se.
Uma verdadeira estória de vida.Foi um prazer enorme ler e reler esta épica narrativa onde somente tres Amigos, através do silencio e do olhar comungaram da mesma experiencia, de dor,de sofrimento.
Este lugar cheio de cronicas, de um pescador, de um Amigo é um oásis onde por vezes venho curar as minhas proprias feridas...

Obrigado Ruben.

Abraço
António Simões

Pedro Macieira disse...

Parabéns pelo blogue.
Roubei-lhe um excerto de um texto de um post.
Publiquei aqui:

http://www.riodasmacas.blogspot.com/2012/02/outra-forma-de-olhar.html

Espero que não leve a mal
Cumprimentos

Ruben disse...

Boa Noite Amigo Antonio.
Há muito tempo que não tinha noticias suas.
É com gosto que sei que vem a este meu canto passar algum do seu tempo.
Obrigado pelo seu comentario.
Um abraço.

Ruben disse...

Boa Noite Pedro Maceira.
É com muita honra que algum dos meus escritos sirvam para dinamizar o seu Fantastico Blog. Já por diversas vezes o consultei considero-o um blog de referencia.
Parabens pelo excelente trabalho que tem feito.
Um abraço